No dia 28 de agosto, o Núcleo Memória (NM) realizou mais uma visita mediada ao antigo complexo do DOI-Codi/SP (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna). Desde 2017, quando o programa foi iniciado, mais de 5 mil pessoas já participaram das atividades, conhecendo de perto o espaço que abrigou o maior centro de repressão e tortura da ditadura militar e que, desde 2014, é reconhecido como patrimônio cultural de São Paulo.
Nesta edição, participaram 48 pessoas, em sua maioria estudantes do ensino médio do Instituto Federal de Goiás (IFG), de Goiânia (GO), acompanhados pelo professor Rainer Gonçalves. Os alunos estavam na capital paulista para disputar a etapa final da Olimpíada Nacional de História do Brasil e aproveitaram a oportunidade para visitar o antigo DOI-Codi.
A equipe do Núcleo Memória responsável pela atividade foi composta pelo diretor executivo e ex-preso político Maurice Politi; pelo historiador e educador César Novelli Rodrigues; pela assistente administrativa Viviane Cândido; e pelo assessor de comunicação da Agência Jacarandá, Othon Barros. A visita contou ainda com a presença e os testemunhos da atriz, dramaturga e ex-presa política Dulce Muniz, além da professora da PUC-SP e ex-presa política Leslie Beloque, do jornalista e ex-preso político Ivan Seixas e da professora Mariana Aldrigui, do curso de Lazer e Turismo da EACH-USP.
Na abertura, o educador César Novelli apresentou o histórico do Núcleo Memória e destacou a parceria mantida desde 2009 com o Memorial da Resistência de São Paulo, além da atuação na criação do Memorial da Luta pela Justiça (antiga Auditoria Militar de SP) e do Memorial DOI-Codi, onde ocorreu a visita. César também alertou os estudantes para os desafios enfrentados pela disciplina de História na atualidade, como a redução da carga horária nas escolas de São Paulo, o avanço de escolas cívico-militares e a substituição de professores por plataformas digitais. Ressaltou, assim, a importância de valorizar tanto a disciplina quanto os profissionais que a ensinam.
Em seguida, Maurice Politi apresentou um panorama sobre a formação da Operação Bandeirante e sua continuidade com o DOI-Codi, relatando sua experiência como preso político em março de 1970, aos 21 anos, durante a gestão do major Waldir Coelho.
A primeira etapa foi concluída com a fala de Dulce Muniz, que contou a trajetória do grupo militante ao qual pertenceu, o Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT), cuja atuação buscava uma aliança operário-camponesa em lutas sociais e de classe, pautada na disputa de ideias e não na luta armada. Dulce relatou sua prisão e condução à Oban, fez paralelos entre o regime militar e a atualidade e emocionou o público ao declamar o poema Poesia e Paz, de seu irmão, Dori Carvalho.
Na segunda etapa, os participantes visitaram o pátio interno do complexo, guiados por Maurice e César, que explicaram o funcionamento dos demais prédios hoje ocupados pela Polícia Civil. Em seguida, divididos em dois grupos, conheceram o prédio de dois andares onde ocorreram interrogatórios, torturas e assassinatos.
Ao final, houve um momento de compartilhamento de impressões. Um estudante imigrante da Venezuela expressou sua visão crítica sobre a preservação de espaços de memória, questionando sua efetividade na prevenção de novas atrocidades. O comentário gerou um debate enriquecedor, no qual a maioria dos presentes defendeu a importância da preservação desses locais. Diversos alunos agradeceram e parabenizaram o trabalho do Núcleo Memória pela oportunidade de aprendizado.
O Programa de Visitas Mediadas ao antigo DOI-Codi/SP é apoiado neste ano por emenda parlamentar firmada entre o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e o Núcleo de Preservação da Memória Política (NM), por meio do Termo de Fomento nº 973112/2024, que também contempla o fortalecimento da Rede Brasileira de Lugares de Memória (Rebralum), voltada à preservação da memória histórica, à educação em direitos humanos e à consolidação da democracia.
A próxima visita está marcada para o dia 03/09. Acompanhe as redes sociais do Núcleo Memória e a agenda disponível em nosso site para conferir a programação completa até o fim do ano.