A primeira visita do mês de agosto do Programa de Visitas Mediadas ao antigo DOI-Codi/SP aconteceu no sábado, dia 16, reunindo 70 participantes. Nesta edição, o público pôde escutar os testemunhos de dois ex-presos políticos da ditadura militar: Dulce Muniz e Ivan Seixas.
A atividade iniciou, como de praxe, com a recepção da equipe do Núcleo Memória, representada pela assistente administrativa Viviane Cândido, os assessores de comunicação da Agência Jacarandá, Juliana Victorino e Othon Barros, e o historiador e educador César Novelli Rodrigues.
Entre os presentes, destacou-se a participação de uma turma do Arquivo Histórico Municipal de Guarulhos, que cursa disciplina sobre Patrimônio Cultural — neste encontro, com foco nos chamados Patrimônios Difíceis. Também acompanharam a visita três técnicos do IPHAN-SP e duas técnicas do Memorial Brumadinho: Débora Silva, gerente de Pesquisa, Documentação e Acervo, e Adriana Piva, gerente de Conteúdo e Programação.
Após a apresentação do procedimento da visita e uma breve contextualização sobre a história da entidade e o processo de tombamento do complexo da antiga Oban e DOI-Codi, Novelli ressaltou a importância da apropriação social desse patrimônio cultural, tombado em duas esferas — estadual e municipal.
Na sequência, a palavra foi passada à dramaturga e atriz Dulce Muniz. Em tratamento contra um câncer na região da boca, Dulce explicou que permaneceria de máscara e não poderia acompanhar toda a atividade. Apesar das dificuldades, compartilhou reflexões que estabeleceram pontes entre o passado ditatorial e os desafios atuais diante das ameaças da extrema-direita. Ao final, emocionou a todos ao recitar o poema Poesia e Paz, de autoria de seu irmão Dori Carvalho, sendo calorosamente aplaudida.
Que as estrelas te iluminem
Que a vida te seja leve
Que tua mesa seja farta
Que tuas dores sejam breves
Que a natureza te seja grata
Que tenhas sempre o coração generoso
Que possas sempre fazer o bem
E sobreviver ao mal
Em seguida, o jornalista Ivan Seixas fez uma exposição de quase uma hora, contextualizando de forma brilhante o período anterior e posterior ao golpe civil-militar de 1964. Relatou ainda sua prisão no DOI-Codi, em abril de 1971, quando foi detido junto ao pai, Joaquim Alencar de Seixas, à mãe e às duas irmãs. Ao término de sua fala, recebeu efusivos aplausos.
No segundo momento da visita, o grupo foi conduzido ao pátio interno da delegacia, onde Novelli e Seixas explicaram as funções dos prédios do complexo durante a atuação da Oban e do DOI-Codi. Em seguida, os visitantes foram divididos em dois grupos e percorreram, junto aos educadores, os espaços de interrogatório e tortura. No local, conheceram mais histórias de pessoas que resistiram à ditadura, como Vladimir Herzog, Amelinha Teles, Virgílio Gomes da Silva, Dilma Rousseff, entre outros.
Após três horas de intensa atividade, a visita foi encerrada.
Neste ano, o Programa de Visitas Mediadas ao antigo DOI-Codi/SP conta com o apoio de emenda parlamentar firmada entre o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e o Núcleo de Preservação da Memória Política (NM), por meio do Termo de Fomento nº 973112/2024. O projeto também contempla o fortalecimento da Rede Brasileira de Lugares de Memória (Rebralum), voltada à preservação da memória histórica, à educação em direitos humanos e à consolidação da democracia.
A próxima visita mediada ao antigo DOI-Codi/SP acontece no dia 28 de agosto, quinta-feira, às 10h. O formulário de inscrições já está disponível em nossas redes sociais (@nucleomemoria).