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NÚCLEO MEMÓRIA

Atividades núcleo memória |   Sábado Resistente - “Racismo e Resistência”

 

A coordenadora do Memorial da Resistência de São Paulo, Ana Pato, abriu o evento lembrando que ele foi realizado sob o contexto do dia da Consciência Negra e dois dias após o brutal assassinato de João Alberto Silva Freitas ocorrido em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre. Tanto ela quanto Oswaldo de Oliveira Santos, diretor do Núcleo Memória e mediador deste importante debate se solidarizaram com a família de João Alberto em nome das duas instituições.

Oswaldo apresentou os participantes do debate Toni Venturi, cineasta com mais de 30 anos de carreira formado pela University of Ryerson no Canadá e com formação em Comunicação Social pela USP, dirigiu o longa-metragem “Cabra-Cega” e o documentário “O Velho - A história de Luís Carlos Prestes”, além de ser o diretor do documentário “Dentro da Minha Pele” que foi objeto do debate no evento; Val Gomes, co-diretora, pesquisadora e roteirista do filme, formada em Ciências Sociais pela UNESP com pós-graduação em Arte Integrativa pela Universidade Anhembi Morumbi, com passagem na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, onde foi curadora do projeto “A luta é contínua”, que levou resistentes políticos presos ou perseguidos durante a ditadura para debater com o público em 59 equipamentos culturais em 2013, além de idealizar e implementar o projeto de formação de educadores em Direito à Memória e Verdade entre 2015 e 2016; e Flavia Mateus Rios, bacharelada e licenciada em Ciências Sociais, mestre em Sociologia pela USP, onde é doutoranda; foi professora-visitante pela Universidade de Princeton nos EUA e atualmente é professora-adjunta da Universidade Federal Fluminense, onde coordena o curso de licenciatura em Ciências Sociais.

A primeira a falar foi a professora Flavia Rios, que se disse impactada com o ocorrido em Porto Alegre e que, apesar deste ser um acontecimento recorrente, é necessário se impactar, cada vez que tal fato ocorra. Neste sentido, o filme traz à tona um assunto que por muito tempo foi invisibilizado: o racismo estrutural. A ideia de estruturalidade é central no filme, desmistificando o argumento de que o racismo é episódico, localizado ou pontual na realidade cultural e social brasileira, e que um dos grandes trunfos do documentário é o de sensibilizar as pessoas com as histórias que são retratadas nele. Afirmou que as narrativas que envolvem a temática sobre o racismo necessitam ter o fator sensível como potencializador para atingir aqueles que nunca passaram por esta situação. Desta forma, é possível haver um compartilhamento de empatia e solidariedade. Disse também que o filme consegue problematizar a questão racial e do racismo em uma chave mais moderna, não só pelo viés de quem sofre o preconceito, mas também pela ótica do branco, complexificando assim o lugar do privilégio. Ainda assim, o filme não tira do foco o negro e evidencia o extremo contraste no país com as desigualdades sociais.

Co-diretora do documentário, Val Gomes, iniciou agradecendo a análise feita pela professora Flávia Rios e disse que o documentário procura evidenciar as relações raciais no Brasil, q que a forma pensada para fazê-lo foi mostrar histórias de pessoas comuns atrelada a reflexões de pensadores que analisam essa questão há tempos. Disse que, inicialmente, trabalhou na produção do documentário enquanto pesquisadora e que a medida em que ia trocando informações com o diretor, foi adquirindo um protagonismo que permitiu ser alçada a co-dirigir o filme. Também disse que o filme foi pensado em camadas para historicizar a estrutura do racismo no país. A chave histórica (com a escravidão, a miscigenação e o projeto de nação que deixa de fora os negros) e a chave da resistência (as populações negras e indígenas que foram dizimadas, mas que resistem até hoje) procuraram ser evidenciadas no filme.

Por fim, o diretor do documentário, Toni Venturi, detalhou o contexto de produção da obra e o quanto foi atingido neste processo. Afirmou que o projeto do filme começou em 2015 ainda no contexto do golpe que estava em processo e que no ano seguinte tirou não só a gestão do Estado das mãos da centro-esquerda, mas também trouxe como horizonte de futuro a diluição das políticas afirmativas. Disse que a sua crença em uma análise marxista sobre a disputa de classes na sociedade foi contaminada, de forma positiva, por uma reflexão sobre a questão da estruturalidade racial, e que essa visão foi alargada em grande parte através das pesquisas apresentadas por Val Gomes. Toni diz que, sendo branco, privilegiado, neto de imigrantes italianos que vêm para o Brasil no século XX, tem um desvelar ao ser confrontado com as literaturas apresentadas por Val, e é esse desvelar que ele pretendeu passar ao realizar o documentário, questionando e apontando os privilégios, a necessidade e a responsabilidade que os brancos têm para a extirpação do racismo na sociedade. Uma forma encontrada por Toni para levar luz a estas reflexões foi indagando-se durante a película, trazendo questões para si mesmo diante de um espelho. “Nós brancos temos que sair do discurso e partir para ações concretas anti-racistas”, disse ao final, e informou que a Olhar Imaginário criou um projeto para que diretores negros possam produzir trabalhos audiovisuais, estabelecendo um grau de oportunidade e equidade que antes não havia.

Na última parte do debate, os palestrantes da mesa responderam às questões do público apresentadas pelo historiador César Rodrigues, integrante do Núcleo Memória. Importante ressaltar que as falas foram intercaladas com trechos do documentário de forma a ilustrar as reflexões trazidas pelos palestrantes.

 

Para assistir ao debate na íntegra basta clicar neste link: https://youtu.be/cRP5uey3LK4 


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