Editorial

O mês de julho de 2025 foi marcado pelos embates entre a arrogância norte-americana em relação ao Brasil — alimentada pela família do ex-presidente — e a serenidade com que o governo brasileiro reagiu ao desafio de enfrentar a maior sobretaxa do mundo sobre produtos exportados aos Estados Unidos. Finalmente, no dia 1º de agosto, data prevista para a entrada em vigor desse nível absurdo de taxação, foi anunciado que mais de 40% dos produtos seriam excluídos da medida e que sua aplicação seria novamente adiada.

Esse episódio marcou um mês caracterizado por ataques à soberania nacional, uma vez que as pressões não foram apenas de caráter econômico, mas envolveram também tentativas de ingerência nas questões internas do país — particularmente na independência entre os poderes — e de interferência explícita no processo judicial contra o ex-presidente Bolsonaro, que entra, em agosto, em sua fase final.

A firme reação do governo brasileiro, defendendo a autonomia dos poderes e se prontificando a negociar medidas alternativas (ainda que sem encontrar interlocutores dispostos), somada à solidariedade expressa em favor do ministro Alexandre de Moraes e às manifestações em defesa da soberania nacional por parte de instâncias oficiais, entidades empresariais e da sociedade civil, resultou no aumento da popularidade do presidente Lula — de 46% para 49%, segundo pesquisas realizadas ao final do mês. Como se diz popularmente, o “tiro pode ter saído pela culatra”.

No entanto, é importante também destacar alguns fatos relevantes no campo econômico e social que, possivelmente devido ao duelo diplomático com os EUA, receberam menos atenção:

A melhor notícia do mês veio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que anunciou a saída do Brasil do Mapa da Fome, com base na média trienal de 2022, 2023 e 2024. Pela segunda vez em 15 anos, o país registrou menos de 2,5% da população em risco de subnutrição alimentar. Quanto ao índice de inflação, apesar da prévia ter subido levemente em relação a junho (de 0,26% para 0,33%), a economia continua dando sinais de recuperação gradual, impulsionada pelo desempenho positivo do setor de serviços e por uma leve retomada do consumo das famílias. Essa recuperação também é reflexo da taxa de desemprego formal, que caiu para 5,8% no trimestre encerrado em junho. Esse índice — o menor da série histórica iniciada em 2012 — indica que mais de 102 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de ocupação no período, resultado de uma atividade econômica aquecida e de políticas de estímulo focadas nas camadas mais vulneráveis da população.

Destacamos ainda, neste boletim, a divulgação do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, coordenado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e baseado em dados fornecidos pelas secretarias estaduais de segurança, polícias civis, militares, federal e outras fontes oficiais. Trata-se de um retrato atual das políticas de segurança pública no país, com dados que revelam as persistentes e alarmantes taxas de letalidade policial, feminicídios e desigualdades raciais. Convidamos os leitores e amigos do Núcleo Memória a conhecer esse documento fundamental.

O mês de julho, que para muitos representou um período de férias, certamente não foi de descanso para nossa equipe. Como poderá ser conferido ao longo deste boletim, estivemos ativamente envolvidos em ações educativas e culturais, além de presentes nas manifestações em defesa da soberania nacional que marcaram o mês.

Nosso compromisso com a promoção da cidadania consciente e dos valores democráticos nos impulsiona a seguir nessa jornada, que teve início em agosto com mais uma edição do Sábado Resistente, desta vez debatendo o papel do teatro na resistência, ontem e hoje.

Boa leitura!

Programa de Visita Mediada ao antigo DOI-Codi/SP
16/08 às 10h
28/08 às 10h
Local: Rua Tutóia, 921

Sábado Resistente: Movimentos Populares e o Direito à Cidade
06/09 às 14
Local: Memorial da Resistência

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