29/07/2021
“Eu não sonho com o sucesso, simplesmente acordo cedo e trabalho para conquistá-lo.” É o bilhete que recebo no semáforo, do jovem negro que desliza como um bailarino entre automóveis sedentos de espaço, na cidade que não vai demorar a se recolher. A cidade formal vai se defender das estrelas frias que apascentam a noite de julho, mas aquele que acorda cedo “para conquistar o sucesso”, certamente dormirá num barraco frio nos limites do arrabalde encardido.
Suponho que o bailarino da esquina sequer tomou conhecimento do incêndio da estátua do corajoso caçador de índios e a sua dança urbana arriscada – que reproduz o risco dos seus antepassados para sobreviver nas hostilidades da terra – se move numa neblina entre dois tempos, hoje só esboçados: o tempo da barbárie programada do corpo que explora a si mesmo e o tempo do sucesso represado pela dor.
Entre os traficantes que sabem aproveitar os aviões da Presidência e a cidade formal está a outra cidade: do arrabalde invisível, que só aparece nas crônicas policiais quando os pequenos traficantes matam e se matam nos becos escuros, livres para morrer ou para sonhar. Os Lehmans da vida e os agentes das publicidades oficiais andam em busca dos empresários que criaram na ficção neoliberal, como ideia dos autônomos sem rumo que transformaram, inconscientemente, o seu movimento nas esquinas em fracasso pornográfico da política do neoliberalismo.
O recado do bilhete é a “ironia objetiva” do lutador pela vida, desesperado pelo emprego que desapareceu, pelos filhos, irmãos, mães, que se desintegraram na maré neoliberal. A maré que ergueu a mais espessa neblina da história republicana, que fechou a paisagem dos direitos e transformou o trabalho no embuste que todos podem ser empresários de si mesmos. Acordar cedo para conquistar o sucesso, no caso, é deixar na haste do espelho dois “Torrones” – por dois reais – mobilizando o corpo entre os carros que dominam a cidade.
Sobre o projeto a “ponte para o futuro” de Michel Temer, ora gerenciado pelo grupo cívico-militar bolsonariano, Leda Paulani escreveu: “a única conclusão que se pode chegar é que a ponte que assim se constrói é uma ponte para o abismo no qual se precipitará o país, refém de interesses específicos e de uma riqueza privada que busca o alcance dos próprios objetivos a qualquer custo, mesmo que isso implique lançar 200 milhões de brasileiros no perigoso vazio da anomia social, da qual o modelo conciliatório anterior tentava escapar”.
O perigoso vazio de anomia aí está, pois a barbárie foi naturalizada (com a ajuda da mídia que apoiou o Golpe), abrigada nos fundamentos éticos do período. Eles estão inscritos especialmente em dois episódios, protagonizados pelo líder tenebroso: uma fala, “não sou coveiro”; e um “arfar psicótico”, quando imita a falta de ar de um condenado pela doença que ele mesmo liberou.
É tentador contrastar aquela conclusão de Leda Paulani com o estranho incêndio da estátua de Borba Gato, ato que não recomendaria por razões políticas, mas que certamente ajuda a desvestir a moralidade fascista de determinados setores direitistas, que não gostam de ver estátuas queimadas, mas que não se importam de conviver com os incêndios coletivos provocados por políticas de extinção dos humanos. A “compaixão”, que segundo Faulkner deveria manter os seres humanos inteiros na sua jornada infinita de afirmação e desafios, não existe no bolsonarismo, fulminada pelas premissas amorais daquela “fala” e naquele “arfar” assassino.
A parte final do texto de Leda Paulani, na excelente obra coletiva Por que gritamos Golpe? (Boitempo) traz uma conclusão extraordinária para os historiadores do futuro avaliarem as dimensões subjetivas da crise econômica do tempo presente, no exato momento em que o ENEM tem o seu mais baixo índice de inscrição desde 2005!
A constatação de Leda, cinco anos atrás, mostra que a crise material se instalou plenamente na moralidade dominante – em determinados circuitos de opinião intelectual e política – mudando-a rapidamente, para colocá-la – sem mover um músculo das faces cínicas que lhe seguem – a serviço da naturalização do fascismo.
Ao se indignarem com o incêndio da estátua de “Borba Gato”, ao mesmo tempo recusam ver as conexões do Golpe contra Dilma com a morte e a fome (que estão no cotidiano de milhões), estas pessoas excluíram do seu horizonte de humanidade as mulheres e os homens mais explorados do povo, que seriam – depois do Golpe – assediadas pela fome e pela doença. É a síndrome “Borba Gato”, que supõe que destruir a estátua de um caçador de índios é um pecado cívico, mas que apoiar um genocida e seus asseclas é sinal de “bom gosto” da razão decadente.
As almas dos índios assassinados também não se importaram com o incêndio da estátua. Ou os índios não têm alma?
*Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.
Fonte: A Terra é Redonda
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