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NÚCLEO MEMÓRIA

Direitos humanos |   O fenômeno do negacionismo histórico: breves considerações

Monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos da Ditadura Civil-Militar no Brasil (Parque do Ibirapuera / São Paulo). Foto: Oswaldo Santos-Junior | NM

 

Oswaldo de Oliveira Santos Junior

Ao abordar o tema do “negacionismo”, compreendemos que não se trata de um fenômeno recente ou mesmo circunscrito a um único lugar ou região. Negar fatos históricos e procurar “apagar”, distorcer e criar mecanismos de esquecimentos têm sido uma prática sistemática na história da humanidade, e os modos de se perpetrar este apagamento / esquecimento tem sido os mais variados.

O negacionismo (négationnisme) consiste nesta prática de negar realidades desconfortáveis a um grupo ou setor da sociedade, que abandona a verdade dos fatos, criando uma realidade à parte dos consensos científicos, históricos, políticos, econômicos e sociais. Há inclusive um conceito teórico, que expressa de modo mais preciso este processo: raciocínio motivado (motivated reasoning[1]), isto é, um processo interno que elimina as contradições e dissonâncias, descartando aquilo que incomoda e não se adequa à ideia de mundo que o indivíduo compartilha.

Assim, se o mundo real, os fatos históricos, científicos, políticos e até religiosos não colaboram para a “visão de mundo” do indivíduo, ele “simplesmente” nega estes fatos, construindo uma “realidade paralela”, realidade sua (confirmada por outros indivíduos de seu grupo), de terras planas, enfermidades que não existem, e fatos históricos igualmente enganosos.

Tem sido assim com o negacionismo do Shoah (שואה – calamidade, catástrofe[2], do escravismo africano nas Américas, das mudanças climáticas, de inúmeras doenças que acometem a humanidade e com inúmeros outros fatos históricos comprovados e fartamente verificados.

O fenômeno negacionista encontra-se com a Pós-Verdade

Na pós-verdade estamos diante de “circunstâncias em que os fatos objetivos são menos influentes em formar opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal”[3]

A verdade dos fatos pouco importa, o que importa é satisfazer os interesses pessoais, e confirmar as convicções ideológicas da tribo, e nesta direção o indivíduo opta pela versão que mais agrada e satisfaz, e a verdade objetiva dos fatos históricos torna-se irrelevante e até mesmo incomoda demais[4].

O período das ditaduras na América Latina também encontra o fenômeno negacionista em todos os países da região. Grupos que insistem em uma narrativa que acoberta e silencia a realidade violenta, antidemocrática e violadora dos direitos humanos, realidades que impediram o avanço da cidadania e que ainda perduram em muitas sociedades em toda a América Latina.

Esse fenômeno negacionista da história das ditaduras em toda a América Latina, não é fruto do desconhecimento, a ignorância pode até funcionar como uma caixa de ressonância, mas não é sua base. Seu fundamento está na polarização política e na debilidade dos argumentos usados nos debates.

O fenômeno do negacionismo histórico, sobre as ditaduras da América Latina,  é sim oriundo de um processo deliberado, que configura uma verdadeira “arquitetura negacionista”, que legitima a barbárie como norma, e que encontra, por exemplo na prática sistemática das Fake News, seu alimento cotidiano.

A questão que emerge destas considerações iniciais é: como superar e realizar o enfrentamento do negacionismo histórico?

Resistir ao negacionismo histórico é uma tarefa de todos nós, em nome da Verdade, da Justiça e da Memória. Os lugares de memória (sítios de memória), têm essa função de espaços pedagógicos de resistência.

 


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