08/02/2021
Foto: Fabiano do Amaral
Por PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.*
Gostaria hoje de dar uns tecos na “elite do atraso”. Ela merece muito mais do que tecos, claro. Mas vou exercer certa autocontenção. Não é fácil fazê-lo, como o leitor certamente imagina. No Brasil, os donos do dinheiro e do poder apresentam características altamente problemáticas, como se sabe há muito tempo. Machado de Assis já notava em 1861: “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”. Machado foi um de muitos grandes brasileiros que não se conformaram com o contraste entre o país e suas camadas dirigentes.
A hipocrisia da elite tupiniquim, por exemplo, é fora do comum. De uns tempos para cá, o esporte preferido de uma parcela da mídia tradicional tem sido atacar o governo federal, considerado incivilizado, incompetente e danoso à imagem do país no exterior. Ainda bem, o ataque tem cabimento. Não tem cabimento, porém, culpar apenas Bolsonaro e o bolsonarismo pelos nossos dramas e impasses. A “elite do atraso”, inclusive e destacadamente figuras proeminentes que agora estão na oposição ao governo, contribuíram de modo apreciável para a desgraça atual. Ou não? Tenho a ligeira impressão que sim. Nem se sabe, ao certo, a sinceridade e firmeza desses neo-opositores.
“Elite do atraso”. Talvez não exista designação melhor do que essa, cunhada por Jessé Souza, para as classes dirigentes brasileiras ou suas frações dominantes. Mesmo quando se creem modernas e cosmopolitas, a sua marca distintiva é o atraso, o apego ao passado e ao ultrapassado.
A ortodoxia de galinheiro
A aversão ao debate livre e aberto de ideias é outro traço marcante da elite do atraso. Isso se reflete na virtual inexistência de debate econômico na mídia corporativa, o que permite a consagração de doutrinas primárias e antiquadas como verdades incontestes. Se o debate tivesse sido mais livre nas décadas recentes dificilmente teriam prosperado teses econômicas extravagantes e danosas ao interesse nacional. Por exemplo, a ideia de que a “poupança externa” é indispensável ao desenvolvimento de uma economia emergente e o postulado correlato de que são desejáveis déficits expressivos nas contas externas correntes. Ou a suposição ingênua de que o regime de câmbio flutuante exime um país de manter reservas internacionais elevadas. Ou, ainda, a crença de que a expansão monetária resulta necessariamente em inflação. Pérolas da ortodoxia de galinheiro…
Quando voltei da China, em fins de 2017, constatei que as discussões de temas econômicos nos principais órgãos de comunicação brasileiros, que nunca fora das mais diversificadas, havia quase desaparecido. Só são amplamente divulgadas opiniões condizentes com as prioridades e os preconceitos da elite do atraso, sobretudo da sua fração hegemônica, o sistema financeiro – a notória turma da bufunfa. Essa confraria, quando pensa, ou finge que pensa, recorre ao que costumo chamar de “ortodoxia de galinheiro”, uma versão simplificada da ortodoxia econômica inventada nos Estados Unidos em décadas passadas. Ora, sem debate, sem confrontação de ideias, não se pode propriamente falar em democracia.
Um pouco de história política nacional
que acabo de dizer pode e deve provocar indignação, mas nunca surpresa. A elite do atraso só é democrática no discurso. A sua prática é autoritária e, quando necessário, golpista. O exemplo clássico é a velha UDN – a assim chamada União Democrática Nacional, partido supostamente liberal criado em 1945 e extinto em 1965. Por experimentar quase sempre grande dificuldade em vencer eleições presidenciais, a UDN apoiou ou liderou quase todos, senão todos os golpes políticos da época – contra Getúlio, contra JK, contra Jango. Havia, na realidade, um pequeno equívoco na denominação do partido – deveria ter se chamado não UDN, mas UGN, União Golpista Nacional. A UGN e seus sucedâneos só conseguiam chegar à Presidência pela via eleitoral quando se fixavam em figuras exóticas, meio destrambelhadas, como Jânio Quadros e, mais tarde, Fernando Collor. Nos dois casos, o exotismo era tanto que não chegaram a concluir os mandatos para os quais foram eleitos. Jair Bolsonaro é a última versão desse recurso “ugenista”, agravada, entretanto, por traços mais perigosos, fascistas ou pelo menos protofascistas.
A UGN tem importantes sucessores contemporâneos, que se destacaram nas crises políticas recentes. O PSDB, hoje decadente, foi o que mais se aproximou do modelo “ugenista”. Aécio Neves, derrotado em 2014, clamou pela sabotagem contra o a presidente reeleita, deu a largada para o golpe parlamentear e formou a imagem perfeita da UGN no século 21.
A mídia alternativa é a salvação da lavoura
Mas volto ao estreitamento do debate econômico nacional. Fora da mídia alternativa, quase não há mais espaço para visões críticas ao “consenso do mercado”. Na mídia corporativa, o espaço é exíguo e rigorosamente controlado. Aliás, se não fosse a mídia alternativa, com sua variedade de publicações, sites, blogs etc., este economista que vos escreve se veria reduzido a um silêncio praticamente total. Estaria subindo pelas paredes, feito lagartixa profissional (como diria Nelson Rodrigues).
A virtual supressão do debate econômico cobra seu preço. O leitor talvez não tenha condições de aquilatar o estrago que está se fazendo no país, há décadas, com a subordinação da política econômica ao que há de pior na ortodoxia de galinheiro!
Paro e releio o que escrevi. Ficou um pouco violento. A autocontenção não funcionou bem. Peço desculpas, leitor, pela exaltação de algumas passagens. Bem sei que carregar nas ênfases, nas palavras e nos pontos de exclamação, pode prejudicar mais do que convencer. Mas o quadro emergencial que estamos vivendo talvez justifique e perdoe os excessos retóricos.
*Paulo Nogueira Batista Jr. foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países. Autor, entre outros livros, de O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata (LeYa).
Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista Carta Capital, em 5 de fevereiro de 2021.
O Brasil voltou à época dos mortos e desaparecidos políticos
Não é incompetência nem descaso, é método
Entidades pedem que Biden use encontro com Bolsonaro para defender a democracia e a causa ambiental
Polícia Rodoviária Federal ontem e hoje
Tribunal dos Povos deve condenar Bolsonaro por crimes na pandemia
50 Anos da Primeira Greve de Fome de presos e presas políticos em São Paulo
Ditadura tentou censurar na Itália denúncias de tortura no Brasil
Os áudios do STM e a luta por verdade, justiça e memória no Brasil
Curta-metragem sobre Heleny Guariba recebe menção honrosa no festival “É Tudo Verdade”
Núcleo Memória lamenta morte do jurista Dalmo Dallari
Jornalista Jamil Chade publica carta aberta ao Deputado Eduardo Bolsonaro
“Herança da ditadura tem de ser combatida com reforma no ensino militar”, diz Vannuchi
Golpe é golpe, tanto em 1964 quanto em 2016. Nada a comemorar
No Dia do Direito à Verdade, ONU fala da importância de reparar vítimas
Heleny Guariba, presente! Hoje e sempre!
RESLAC rejeita o cancelamento da concessão do Parque Cultural Valparaíso pelo governo cessante
`Não toquem em arquivos da Ditadura`: servidores relatam censura no Arquivo Nacional
Em ação eleitoreira, governo Bolsonaro desfere um golpe baixo contra o setor cultural
O que fazer com as 1.049 ossadas descobertas na vala de Perus?
Múltiplos espancamentos de Moïse
Opinião: Comissão Arns - Eny, coragem e doçura
Um novo bilionário surgiu a cada 26 horas desde o início da pandemia, aponta Oxfam
NOTA DE FALECIMENTO Dra. Eny Raimundo Moreira (1946 - 2022)
Derrotar o fascismo e a política do ódio
Crime da ditadura brasileira é investigado na Argentina
Prefeitura celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos com entrega de prêmios
Em São Paulo, uma jornada cheia de armadilhas para o Memorial da Tortura
Maurice Politi recebe Prêmio Alceri Maria Gomes 2021 por defesa dos Direitos Humanos
Ato Solene na ALESP: Um Memorial pela Democracia
TRF-3 confirma decisão que mandou Secom se retratar por homenagem a Major Curió
Parlamento do Mercosul condena Bolsonaro por apoio às ditaduras na região
Rua em São Paulo troca nome de torturador por nome de torturado
Pesquisa revela como a necropolítica e a pandemia afetam as favelas do Rio
Paulo Freire - o combate ao analfabetismo social
Brasil se cala em reunião na ONU sobre justiça para vítimas da ditadura
Justiça condena União, Funai e MG por violações a indígenas na ditadura
HÁ 50 ANOS ENTRAVAM PARA A ETERNIDADE CARLOS LAMARCA E ZEQUINHA BARRETO, HERÓIS BRASILEIROS.
NÚCLEO MEMORIA É ACEITO COMO “Litisconsorte ativo” na Ação Civil Pública do DOI-Codi em São Paulo
O que fazer com o maior centro de tortura da ditadura?
Sábado Resistente: Direitos Humanos em Foco “A questão migratória e o fenômeno da xenofobia”
Pela criação de um Memorial no antigo DOI-CODI São Paulo
Jamil Chade - Lei de Anistia perpetua `cultura da impunidade` e será questionada na ONU
Contra deboche bolsonarista, juiz vai fazer audiência no DOI-Codi
A institucionalização do deboche
Entrego minha vida à minha classe, para que continuem a minha história
Circulação de armas aumenta e homicídios no Brasil voltam a crescer
Camilo Vannuchi: A mentira está no DNA das Forças Armadas no Brasil
Qual será o futuro do trabalho?
ONU tenta frear onda ultraconservadora liderada por Brasil
Pela reinterpretação da Lei de Anistia!
MPF obtém sentença histórica contra ex-agente da repressão por crime político na ditadura
Barbárie, golpe e guerra civil
Da tortura à loucura: ditadura internou 24 presos políticos em manicômios
Na era bolsonarista, expor horrores da ditadura é tarefa cívica
RJ: Justiça destina à reforma agrária usina onde corpos foram incinerados na ditadura
MPF pede responsabilização civil de ex-agentes militares que atuaram na “Casa da Morte”
Brasil: Investigue Comando da Polícia do Rio por operação no Jacarezinho
Renunciar à Convenção 169 da OIT é condenar indígenas ao extermínio
O que torna o filme Marighella tão atual e urgente no Brasil de 2021?
A fúria transborda na Colômbia
Audiência Pública – Memorial da Luta pela Justiça
Live Conhecendo Lugares de Memória: Navio Raul Soares
Atentado do Riocentro golpeou autoridade de Figueiredo e completa 40 anos sem culpados
Pilha foi espancado e torturado na prisão
Sábado Resistente - Direitos Humanos em Foco: Memória, Verdade e Justiça
Morre Alípio Raimundo Vianna Freire
Liberar as patentes para evitar uma catástrofe
Camilo Vannuchi - O dia em que a Lei de Segurança Nacional foi condenada
Morre aos 89 anos Dr. Mario Sergio Duarte Garcia
Dois anos de desgoverno – como chegamos até aqui
Ato virtual Movimento Vozes do Silêncio | Denúncia do golpe civil militar de 1964
EUA sabiam da tortura na ditadura brasileira e poderiam intervir se quisessem
Os crimes cometidos pela Volkswagen na ditadura, segundo relatório do Ministério Público
Memória, impunidade e negacionismo: um país em busca de si próprio
31 de março/1º de abril de 1964
Live “Conhecendo Lugares de Memória: o Memorial da Luta Pela Justiça”
MPF recorre de acórdão do TRF3 que negou indenização à viúva de preso pela ditadura
Nota sobre a decisão da Justiça em permitir a comemoração do golpe pelo Governo Federal
Justiça autoriza exército a comemorar o golpe militar de 64
Volks publica comunicado reconhecendo participação em prisões e torturas durante a ditadura
O povo não pode pagar com a própria vida!
A anulação das decisões de Moro e a sua suspeição no caso Lula: Savonarola vai a Roma.
Intelectuais escrevem “carta aberta à humanidade” contra Bolsonaro
Democracia e estado de direito vivem `retrocessos` no Brasil, alerta CID
Indigência mental e falência moral
COMISSÃO ARNS | NOTA PÚBLICA #30
Já pode chamar de regime militar?
Ministra Damares não calará a sociedade civil
Os outros Daniéis Silveiras que ignoramos
Dois anos de maior acesso a armas reduziu violência como dizem bolsonaristas?
STF demora, e 3 acusados de assassinar Rubens Paiva morrem sem julgamento
A elite do atraso e suas mazelas
Livro desfaz mito e revela ação efetiva do Itamaraty para derrubar Allende
Fachin: não aceitação do resultado eleitoral pode resultar em mortes e ditadura
Denúncia à novos ataques ao Estado de Direito na Guatemala
Assassinatos de pessoas trans aumentaram 41% em 2020
Dois anos de desgoverno – três vezes destruição
Governo Bolsonaro é denunciado novamente à Corte Interamericana por insultar vítimas da ditadura
Invasão do Capitólio – a face obscura da América
Tortura Nunca Mais Tortura é Crime
Democracia e desigualdade devem ocupar lugar central no debate político pós-pandemia
Judiciário precisa frear racismo nas abordagens policiais
A tortura, essa praga que paira sobre nós
ONU quer enviar missão sobre ditadura, mas Brasil não responde desde abril
Nota sobre o despejo no Quilombo Campo Grande
Lógica de usar torturadores da ditadura no crime foi usada nas milícias
Militantes de esquerda recebem carta com ameaças junto com balas de revólver no interior de SP
Bolsonaro é denunciado em Haia por genocídio e crime contra humanidade
O fenômeno do negacionismo histórico: breves considerações
Virada para “Qual democracia?”
Experiência de participação da sociedade civil nas Comissões de Verdade da América Latina
ONU cobra respostas do Brasil sobre violência policial, milícia e Ditadura
Corte Interamericana acata denúncia contra governo Bolsonaro por insulto a vítimas da ditadura
Os crimes cometidos por Major Curió, torturador recebido por Bolsonaro no Planalto
PSOL e entidades de direitos humanos denunciam governo Bolsonaro à Corte Interamericana
RESLAC MANIFESTA SEU REPÚDIO À PRISÃO DOMICILIÁRIA DE REPRESSORES NO CHILE
Fim de semana pela memória e resistência a favor da Democracia
Levantamento mostra piora na educação, saúde e social no 1º ano de Bolsonaro
Bolsonaro corta investimentos em Educação, Saúde e Segurança
`Casa da Morte`, local de tortura na ditadura, abrigou antes espião nazista
Argentina avalia criar lei que criminalize os negacionistas da ditadura
Governo de Rondônia censura Macunaíma e outros 42 livros e depois recua
Homicídios caem, feminicídios sobem. E falta de dados atrasa políticas
O nazismo não é exclusivo aos judeus. Holocausto foi tragédia humana
As pensões vitalícias dos acusados de crimes na ditadura
A semana em que 47 povos indígenas brasileiros se uniram por um manifesto antigenocídio
Relatório da Human Rights Watch denuncia política desastrosa de Bolsonaro para direitos humanos
À ONU, Brasil esconde ditadura e fala em anistiar crimes de desaparecimento
Tribunal de Justiça anula decreto do prefeito que tombou a Casa da Morte
Ato Entrega Certidões de Óbito
AI-5 completa 51 anos e democracia segue em risco
Desigualdade: Brasil tem a 2ª maior concentração de renda do mundo
Jovens se penduram em paus de arara em ato de valorização da democracia na Praia de Copacabana
Galeria Prestes Maia, no centro de SP, vai virar Museu dos Direitos Humanos
Truculência nas ruas materializa autoritarismo nada gradual
Bolsonaro é alvo de denúncia no TPI
‘Sem violar direitos humanos, é impossível normalizar o país’, diz ex-ministro de Piñera
A revolução dos jovens do Chile contra o modelo social herdado de Pinochet
ONU denuncia “ações repressivas” em protestos na Bolívia que deixaram ao menos 23 mortos
Campanha da RESLAC: Desaparecimentos forçados nunca mais
Nota de Repúdio aos comentários de Jair Bolsonaro
Nota de Pesar - Elzita Santos Cruz
El País: A perigosa miragem de uma solução militar para a crise do Brasil
SP - Polícia mata mais negros e jovens, aponta estudo sobre letalidade do Estado
UOL: No rastro de um torturador
Hora do Povo: Mostra de João Goulart retrata sua luta para libertar o Brasil
EBC: Prédio onde funcionou Dops em BH dará lugar a memorial de Direitos Humanos
Ato Ditadura Nunca Mais realiza arrecadação online Direitos Humanos
Núcleo Memória lança livro sobre o futuro Memorial da Luta pela Justiça
TV alemã lança filme sobre a Volkswagen e a ditadura brasileira; assista
Assine nossa newsletter
Clique para receber nossa comunicação.