julho/2021

 

EDITORIAL

O vírus da COVID-19 continuou, neste mês de julho, a mostrar sua agressividade. Apesar de ter registrado um número de óbitos menor que o dos últimos três meses, efeito direto da vacinação que vem ocorrendo desde janeiro deste ano, continuamos num patamar considerado ainda alto, com aproximadamente 1.100 mortes e mais de 42.000 casos de testes positivos, diariamente. Com este índice, chegamos ao final do mês com mais de 556.000 brasileiros e brasileiras que morreram durante os últimos 16 meses, muitos consequência direta do descaso com que as autoridades, a começar pelo Presidente da República, trataram desta pandemia desde o começo.

Até a metade do mês, quando os membros da CPI instalada no Senado para averiguar os desmandos na área da Saúde entraram em recesso, a sociedade foi tomando conhecimento das verdadeiras intenções que estavam por trás das supostas compra de vacinas provindas da Índia, que nem tinham autorização da ANVISA.  Novas revelações e escândalos estarão certamente na ordem dia a partir de agosto, quando a comissão retomará os seus trabalhos e audiências.

Por outro lado, vimos, no campo da política a incrível reviravolta dada pelo presidente ao acolher no seu ministério mais importante (Casa Civil) o senador Ciro Nogueira, presidente do partido mais envolvido nas denúncias por corrupção, no escândalo que vulgarmente se chamou de “Petrolão”. Típico representante do chamado Centrão, conhecido por sua “maleabilidade” ao tratar de estar sempre se alinhando com o governo de turno, Ciro Nogueira representa a volta dos políticos mais ladinos ao poder.

Este passo dado pelo presidente representa o abandono das teorias fantasiosas dele que, ao se eleger, prometeu dirigir o país afastado da classe política e sem o tradicional “toma-lá / dá-cá”.  Os próximos meses certamente nos mostrarão se este passo foi dado como resultante da fraqueza eleitoral do presidente, apontada nas últimas medições de opinião, ou se trata de mais uma jogada para arrebanhar novos adeptos à teoria do golpe que vem se desenhando para as eleições de 2022.

No campo econômico, com uma inflação batendo recorde, vimos as camadas vulneráveis da sociedade em situações cada vez mais trágicas. Os jornais noticiaram que, nos últimos 4 meses, mais de 19 milhões de brasileiros acordam sem saber se terão alguma refeição no dia. Imagens de filas de pessoas esperando por cestas básicas distribuídas por dezenas de organizações filantrópicas e religiosas só não foram mais chocantes que as das pessoas que, na cidade de Cuiabá, esperaram, na porta de açougue, para receber doações de pedaços de ossos com retalhos de carne.

E assim vamos passando “este tempo que nos deram para viver” (como diz a música do Edu Lobo) e, se tudo isso não fosse suficiente para nos escandalizar e motivar à ação, a Segurança Pública ainda nos traz questões candentes e delicadas que só pioram a cada dia. Estatísticas reveladas este mês no anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública nos mostram que o Brasil teve alta de homicídios em 2020, com aproximadamente 51.000 mortes violentas, após dois anos seguida de queda nestas cifras. O relaxamento nas regras de compra e posse de armas de fogo, em nível inédito desde a assunção do presidente, e o evidente incentivo ao seu uso, é sinal de que este dado só vai piorar a cada ano.

Ainda no campo da Cultura e dos Direitos Humanos, vimos com estranheza a notícia de abertura de chamamento público da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado para o Museu da Gastronomia no casarão da Av Paulista. Causou-nos perplexidade pelo fato de sabermos de todo o investimento já realizado com verbas públicas para a implantação do Museu da Diversidade Sexual, em um lugar de memória da população LGBTQI+, que contou com concurso público de arquitetura e o trabalho incansável da atual diretoria do Museu, que reuniu em equipe multidisciplinar pessoas e entidades para a elaboração do Plano Museológico.

Para terminar, não podemos deixar de mencionar que o total descaso na elaboração de políticas públicas em prol da cultura e da memória acabou fazendo mais uma instituição-vítima no fim do mês: o incêndio dos galpões da Cinemateca na Vila Leopoldina em São Paulo, mais uma das tragédias anunciadas, que resultou na queima de 4 toneladas de documentos e filmes, memória viva do cinema, televisão e áudio visual do país.

Finalmente, para não somente falar das desgraças políticas, econômicas e culturais hoje no país, vimos neste mês duas medidas na área judicial que nos alentaram, não somente a nós do Núcleo Memória, mas também a todos os que lutam pelo resgate da Memória, Verdade e Justiça.

A primeira delas foi o posicionamento da 11ª Turma do TRF da 3ª Região afastando, por maioria de votos, o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva em relação ao crime de falsidade ideológica cometido pelo ex-médico legista Harry Shibata durante a ditadura. Responsável pela assinatura de laudos de óbitos falsos no Instituto Médico Legal - IML, Shibata já havia sido denunciado pelos familiares das vítimas, desde há muitos anos, sem que até agora a Justiça reconhecesse a sua participação nestes crimes. Esperamos que esta decisão possa percorrer às instâncias superiores de apelação sem ser revogada.

A segunda medida foi a pronta aceitação por parte da Justiça da Ação Civil-Pública que o Ministério Público Estadual impetrou contra o Estado pelo descaso com que trata o caso do tombamento do ex DOI-Codi, que desde 2010 aguarda para ser convertido em espaço de memória e de homenagem às vítimas que por lá passaram. Com uma audiência de conciliação marcada para o início do mês de setembro, estamos todos muito animados prevendo que finalmente uma solução possa ser dada para que o prédio que foi da barbárie e da tortura se converta num espaço a favor da Democracia e dos Direitos Humanos.

Neste mês de julho o NM realizou poucas atividades públicas, se comparado aos últimos meses, mas continuamos trabalhando em home-office em diversos projetos especialmente no que tange ao futuro Memorial da Luta pela Justiça.  Mas, em agosto, retornaremos com nossas atividades públicas regulares, para as quais estão todas e todos convidados.

Agradecemos a atenção e apoio recebidos e desejamos boa leitura a tod@s!

Seja amigo/a do Núcleo Memória - Clique a faça sua doação
 

 
Conhecendo Lugares de Memória
 

No dia 15 de julho, a partir das 20h, apresentamos a Casa do Povo, o quinto Lugar de Memória no Ciclo deste ano de Lives “Conhecendo Lugares de Memória”. A Casa do Povo se define como um centro cultural que revisita e reinventa as noções de cultura, comunidade e memória.

Para conferir o evento na íntegra, clique aqui
Leia mais...

Confira a programação do primeiro semestre em nosso site.

 

 

Aula na Universidade Estadual do Norte do Paraná

No dia 9 de julho, Maurice Politi foi convidado a dar duas aulas no âmbito da disciplina Metodologia do Ensino de História para alunas e alunos do segundo curso de licenciatura em História da Universidade Estadual do Norte do Paraná.. As aulas aconteceram no período vespertino e noturno.

Confira a programação do primeiro semestre em nosso site.

 

 
 

 
 
NÚCLEO MEMÓRIA | Av. Brigadeiro Luis Antonio 2.050 • Bloco B cjto 141
São Paulo, SP • (+55) (11) 2306-4801 • Whatsapp (11) 91320-7471
 
 
www.nucleomemoria.com.br